Biografia
Raul dos Santos Seixas nasceu em Salvador, Bahia,
em 28 de junho de 1945, filho de Raul Varella Seixas e Maria Eugênia Seixas.
Filho da mesma região e geração que Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa
entre tantos outros que definiram o movimento chamado Tropicália, Raul teve ao
contrário destes em sua infância maior contato e assimilação do rock and roll
em virtude de ser vizinho e amigo de filhos de famílias americanas que
trabalhavam para o consulado americano na Bahia. Tornou-se logo fã ardoroso de
Elvis Presley, fundando aos 14 anos um fã-clube brasileiro do cantor (Elvis
Rock Club). Engana-se porém quem pensa que Raul renegou a cultura brasileira
adotando o rock and roll; odiava a bossa nova mas acrescentou ao seu rock
elementos de música nordestina como o baião, xaxado, música brega.
Aluno relapso (repetiu várias vezes a segunda série
ginasial) apesar de muito inteligente e leitor voraz, rapidamente se cansa da
escola decidindo pela profissionalização como músico. Em 1962 em meio ao
movimento bossa nova que explodia no Brasil, Raul monta sua primeira banda, Os
Relâmpagos do Rock, que mais tarde teria seu nome mudado para The Panthers e
finalmente Raulzito e os Panteras. Pela formação do grupo passaram entre outros
além de Raul (vocal e guitarra), Thildo Gama, Perinho (guitarra), Mariano Lanat
(baixo), Carleba (bateria). Logo abandona a faculdade de direito.
Gravam um compacto que seria distribuído para
rádios com duas músicas (sendo uma versão de Elvis Presley). Apresentam-se em
clubes e algumas vezes em rádio e TV. Começam a formar fama como expressão
local do movimento Jovem Guarda da época (liderado por Roberto Carlos, Jerry
Adriani, Erasmo Carlos, Wanderléa, etc, por sua vez versões brasileiras do
sucesso dos Beatles).
Com o apoio de Jerry Adriani sai em turnê pelo
Brasil com os Panteras (abrindo os shows do primeiro) e grava em 1968 o seu
primeiro LP, auto intitulado. Não alcançando nenhuma repercussão a nível
nacional Raul volta para Salvador possivelmente pretendendo abandonar a música.
Sairia da Bahia novamente para tentar carreira de produtor na CBS onde
produziria e comporia para Jerry Adriani, Renato e Seus Blue Caps, Trio
Ternura, Sérgio Sampaio, entre outros astros da época. Perderia este emprego
por produzir e gastar dinheiro sem conhecimento dos seus superiores na
prensagem de seu segundo LP, Sociedade da Grã Ordem Kavernista Apresenta Sessão
das Dez.
Em 1972 alcançou a tão desejada repercussão
nacional classificando duas músicas no Festival Internacional da Canção, evento
de grande repercussão montado anualmente pela Rede Globo, um concurso de
músicas. Raul participou com Let Me Sing Let Me Sing (que chegaria às finais) e
Eu Sou Eu Nicuri é o Diabo. A boa aceitação lhe valeu seu primeiro contrato com
uma gravadora, a Philips Phonogram. Lançou um compacto de Let Me Sing Let Me
Sing e o LP coletânea de covers 24 Maiores Sucessos da Era do Rock (que nem
mesmo traz o nome de Raul, sendo lançado sobre o nome de uma banda Rock
Generation). O segundo compacto, Ouro de Tolo, foi o seu primeiro grande
sucesso.
Em 1973 saiu o LP Krig-Ha Bandolo! apresentando as
primeiras parcerias de Raul com o companheiro de estudos esotéricos Paulo
Coelho. Começaram a formar em parceria o grupo Sociedade Alternativa,
anarquista, baseado na doutrina de Aleister Crowley e também destinado a
estudos esotéricos. Chegariam a pensar em construir em Minas Gerais a
comunidade alternativa Cidade das Estrelas. O movimento foi porém considerado
subversivo pelo governo militar. Raul (que aparentemente passou por sessões de
tortura), Paulo e as respectivas esposas (Edith e Adalgisa) foram exilados nos
estados unidos. Raul viria a conhecer durante o exílio alguns de seus ídolos,
Elvis Presley, John Lennon e Jerry Lee Lewis.
Voltaram ao Brasil em 1974 em meio ao sucesso do
segundo LP, Gitâ, possivelmente o seu lançamento de maior vendagens e
repercussão, ganhando discos de ouro e participando da trilha sonoras da novela
O Rebu. A Philips chegou a relançar 24 Maiores Sucessos... sobre um novo nome,
20 Anos de Rock e dessa vez sobre o nome de Raul. Seguiram-se então LPs de
grande repercussão, Novo Aeon, Há 10 Mil Anos Atrás (último em parceria com
Paulo Coelho), Raul Rock Seixas, O Dia Em Que a Terra Parou.
No início da década de 80 Raul Seixas começou a
apresentar problemas de saúde em virtude de consumo exagerado de álcool. Não
parou porém de lançar discos e projetos, Mata Virgem, Por Quem os Sinos Dobram,
Abre-te Sésamo. Passou a sofrer de hepatite crônica em virtude da bebida e
estava em um hiato de contratos e shows.
Após a queda de vendagens nos últimos discos e um
longo boicote de gravadoras, estourou novamente em 1978 com a música Carimbador
Maluco do LP Raul Seixas, parte do especial infantil Plunct Plact Zumm da Rede
Globo. Seguiram-se os discos Metrô Linha 743, Uah Bap Lu Bap La Bein Bum (com o
que seria seu último grande hit, Cowboy Fora da Lei) e A Pedra do Gênesis (que
deveria ser apenas parte de um projeto maior chamado Opus 666 que não chegou a
ser lançado).
Em 1988 Raul passou a compor, gravar e excursionar
com o também baiano Marcelo Nova, vocalista da banda Camisa de Vênus (então em
fase de extinção).
Em 21 de Agosto de 1989, apenas dois dias após o
lançamento de A Panela do Diabo, Raul Seixas morre de um ataque cardíaco em
virtude de problemas causados pela bebida. Curiosamente após a sua morte tem o
seu talento mais reconhecido do que nunca, arregimentando a cada dia mais
seguidores, sendo lançados postumamente registros inéditos e coletâneas, todos
sucessos de vendas.
Em sua carreira foi pioneiro na mistura de todo
tipo de influência musical ao rock and roll, passeando e acrescentado com
desenvoltura e sem preconceitos ritmos nordestinos (Aventuras de Raul Seixas na
Cidade de Thor), folk ao estilo Bob Dylan (Ouro de Tolo), música brega (Sessão
das 10), umbanda (Mosca na Sopa). Em suas letras abordava com igual
desenvoltura temas tão díspares quanto sentimentos humanos, críticas ao
sistema, esoterismo e agnosticismo. A sua mensagem muitas vezes está implícita
em letras que podem ser taxadas de bobas pelos menos perspicazes (vide a letra
de Carimbador Maluco) e em outros momentos é pura poesia (como em Canção Para
Minha Morte).
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