quinta-feira, 20 de agosto de 2015

SER GOVERNADO- PROUDHON

PIERRE-JOSEPH PROUDHON: SER GOVERNADO

“Ser governado é: ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legisferado, regulamentado, depositado, doutrinado, instituído, controlado, avaliado, apreciado, censurado, comandado por outros que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude. Ser governado é: ser em cada operação, em cada transação, em cada movimento, notado, registrado, arrolado, tarifado, timbrado, medido, taxado, patenteado, licenciado, autorizado, apostilado, admoestado, estorvado, emendado, endireitado, corrigido. É, sob pretexto de utilidade pública, e em nome do interesse geral: ser pedido emprestado, adestrado, espoliado, explorado, monopolizado, concussionado, pressionado, mistificado, roubado; Depois, à menor resistência, à primeira palavra de queixa: reprimido, corrigido, vilipendiado, vexado, perseguido, injuriado, espancado, desarmado, estrangulado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído e, para não faltar nada, ridicularizado, zombado, ultrajado, desonrado. Eis o governo, eis sua justiça, eis sua moral! PROUDHON, Pierre-Joseph. 

A propriedade é um roubo. L&PM Pocket. Porto Alegre. 2001. 172p. (p. 114-115). [15 de março de 2006]

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

FILME: QUERÔ


CRÍTICA - QUERÔ - É um dos filmes mais emocionantes e contundentes que vi nos últimos anos. Consegue fazer do olhar ofendido do pequeno Querô a única chama de dignidade de seu protagonista. – Carlos Reichenbach Querô, o filme de Carlos Cortez, trás a tona os garotos que permanecem a solta nas ruas. Desprovidos de oportunidades, filhos de uma miséria asfixiante, e sem rumo numa metrópole massacrante. Jerônimo (Maxwell Nascimento) é órfão, morador da baixada santista, criado pela cafetina de sua mãe. Rebelde, sem amigos e a mercê das tentações mundanas, Querô – como é conhecido – acaba indo parar na prisão. Eis o celeuma de todo o problema da vida do protagonista. No meio de outros desvalidos da sociedade, Querô é estuprado e obrigado a conviver com uma sociedade que não aceita outra moeda de troca senão a própria vida. Ou você joga o mesmo jogo, ou está fora. Querô alterna estas duas possibilidades, porém seu caminho é torto e inevitável. “Por que mãe, porque tu me pôs no mundo? Vivo de favor, durmo de favor, como de esmola. Isso presta mãe? Isso acaba com a gente. Deixa a gente ruim, mãe.” A frase dita pelo protagonista na solitária é de doer no peito. Nascimento traz para o personagem solidão, ingenuidade e raiva com uma verossimilhança que faz toda a diferença para a trama. Não sem motivo a Globo já tratou de escalar o ator para sua novela adolescente, Malhação. Maria Luisa Mendonça – impagável como a mãe de Quero – Ângela Leal, Ailton Graça – com uma comicidade que lembra o trapalhão Mussum – Eduardo Chagas, Claudia Juliana, Milhem Cortaz, Eliseu Paranhos e Igor Maxiliano. Completa o elenco de um filme intenso, provocador e triste. Outra cena que torna o expectador, cúmplice de Querô é a descoberta do amor. “Eu gosto quando tu me chama de Jerônimo, eu pareço outro cara”. Ao se deparar com o amor na figura de Lica, o menino desprovido de afeto, vê na jovem adolescente uma acolhedora chama, que rapidamente é apagada. Impossibilitado de ser o “Jerônimo da Lica”, Querô desiste. É tão pertinente um filme como Querô, que tentar justificá-lo é algo redundante. Simplesmente veja.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

DOCUMENTÁRIO: CÉSIO 137, O BRILHO DA MORTE

FILME:CÉSIO 137, O PESADELO DE COIANIA


O acidente radiológico de Goiânia, amplamente conhecido como acidente com o Césio-137, foi um grave episódio de contaminação por radioatividade ocorrido no Brasil. A contaminação teve início em 13 de setembro de 1987, quando um aparelho utilizado em radioterapias das instalações de um hospital abandonado foi encontrado, na zona central de Goiânia, no estado de Goiás. Foi classificado como nível 5 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares. O instrumento, irresponsavelmente deixado no hospital, foi encontrado por catadores de um ferro velho do local, que entenderam tratar-se de sucata. Foi desmontado e repassado para terceiros, gerando um rastro de contaminação, o qual afetou seriamente a saúde de centenas de pessoas. O acidente com Césio-137 foi o maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora das usinas nucleares.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

FILME: SERVIDÃO MODERNA


A SERVIDÃO MODERNA “Toda verdade passa por três estágios. No primeiro, ela é ridicularizada. No segundo, é rejeitada com violência. No terceiro, é aceita como evidente por si própria.” Schopenhauer A servidão moderna é um livro e um documentário de 52 minutos produzidos de maneira completamente independente; o livro (e o DVD contido) é distribuído gratuitamente em certos lugares alternativos na França e na América latina. O texto foi escrito na Jamaica em outubro de 2007 e o documentário foi finalizado na Colômbia em maio de 2009. Ele existe nas versões francesa, inglesa e espanhola. O filme foi elaborado a partir de imagens desviadas, essencialmente oriundas de filmes de ficção e de documentários. O objetivo principal deste filme é de por em dia a condição do escravo moderno dentro do sistema totalitário mercante e de evidenciar as formas de mistificação que ocultam esta condição subserviente. Ele foi feito com o único objetivo de atacar de frente a organização dominante do mundo. No imenso campo de batalha da guerra civil mundial, a linguagem constitui uma de nossas armas. Trata-se de chamar as coisas por seus nomes e revelar a essência escondida destas realidades por meio da maneira como são chamadas. A democracia liberal, por exemplo, é um mito já que a organização dominante do mundo não tem nada de democrático nem de liberal. Então, é urgente substituir o mito de democracia liberal por sua realidade concreta de sistema totalitário mercante e de expandir esta nova expressão como uma linha de pólvora pronta para incendiar as mentes revelando a natureza profunda da dominação presente. https://www.youtube.com/watch?v=Ybp5s9ElmcY

FILME: INTERVOZES


vídeo fundamental para entender de uma vez por todas como a oligarquia midiática destrói um dos nossos direitos fundamentais, que é o direito à comunicação. Didático, a matéria mostra que a concentração dos grandes veículos de comunicação na mão de poucas famílias beira a monarquia, já que o poder é transmitido de pai para filho. Em pleno século XXI, é vergonhoso para o Brasil que a pornográfica distribuição de concessões de rádios e TVs feitas por (e para) políticos e empresários picaretas no século passado ainda renda esse atraso monstruoso da mídia que, a despeito da sua milionária estrutura física e técnica, faz jorrar todos os dias uma programação de péssima qualidade para os brasileiros. E quando alguém ousa “competir” com esse poder midiático (montando, por exemplo, uma rádio comunitária), eis que todo o poder constituído se une (oligarcas da mídia, políticos, governos, ANATEL, polícia, Justiça etc.) para confiscar, prender, multar e processar aquele que cometeu o crime de tentar – como faz a poderosa mídia – se comunicar de forma eficaz com os seus iguais. E como mudar tal estrutura se a maioria dos políticos e empresários tem interesse direto ou indireto em deixar tudo do jeito que está? Digo “direto” porque muitos políticos são privilegiados donos de rádios e TVs – e foi exatamente por causa disto que conseguiram se eleger; e digo “indireto” porque a outra parcela de políticos (os que não são donos de veículos de comunicação), certamente recebem apoio daqueles que detém o “poder midiático”. Este vídeo foi postado originalmente com o nome “Levante a Sua Voz”. Eis o crédito do mesmo: Vídeo produzido pelo Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social com o apoio da Fundação Friedrich Ebert Stiftung remonta o curta ILHA DAS FLORES de Jorge Furtado com a temática do direito à comunicação. A obra faz um retrato da concentração dos meios de comunicação existente no Brasil. Roteiro, direção e edição: Pedro Ekman Produção executiva e produção de elenco: Daniele Ricieri Direção de Fotografia e câmera: Thomas Miguez Direção de Arte: Anna Luiza Marques Produção de Locação: Diogo Moyses Produção de Arte: Bia Barbosa Pesquisa de imagens: Miriam Duenhas Pesquisa de vídeos: Natália Rodrigues Animações: Pedro Ekman Voz: José Rubens Chachá https://www.youtube.com/watch?v=KgCX2ONf6BU

sexta-feira, 31 de julho de 2015

FILME: ILHA DAS FLORES


No documentário Ilha das Flores podemos visualizar o quanto o sistema capitalista nos é imposto. Nos relatando a estupidez causada pela desigualdade social, o egoísmo do ser humano e como o dinheiro nos domina tendo a pobreza e a fome como partes recorrentes da má distribuição de renda. Apesar de termos um telencéfalo altamente desenvolvido, um polegar opositor e sermos livres, não nos tornamos menos vítimas de uma sociedade embasada no consumo, na lei da oferta e da procura, na qual o objetivo maior é o lucro. Fica bem explícito no documentário que a divisão do trabalho é bastante marcante pelo fato que desde a colheita até o consumo final, cada função é executada de forma a não ter a noção da sua utilização. O curta nos mostra o caminho percorrido de um simples tomate, gerando riqueza e desigualdade no seu percurso. Ilha das Flores, é uma ilha localizada do Rio Guaíba, que banha a cidade de Porto Alegre-RS, cenário onde deveriam existir flores, beleza, harmonia, no entanto, tem o lixo como produto principal de utilização , é onde vai para o tomate podre que uma dona de casa julgou não servir para alimentação da sua família , esse tomate novamente analisado, agora para alimento dos porcos (animais irracionais) , não servindo fica a mercê da população que reside próximo. As pessoas que utilizam o lixo como a sua principal fonte de alimentação, segundo a Teoria de Maslow, que defende como fator primordial as necessidades básicas (fisiológicas), na sua pirâmide ela é a base; alimentação, moradia, saúde; nos mostra de forma clara a exclusão destas pessoas dentro da sociedade, que por não terem oportunidade, educação, conhecimento não lutam pelos seus direitos, simplesmente se acomodam e aceitam a sua condição. Enfim, como área do conhecimento a administração pode contribuir com novas implementações, melhorando a capacidade de realização e práticas benéficas de responsabilidade pública, para que ela venha aumentar de forma efetiva os serviços prestados, criando alternativas destinadas para amenizar e modificar o panorama vigente, melhorando a vida da sociedade a qual ela serve. Prof Vaner do Prado.

terça-feira, 28 de julho de 2015

GIOVANNI ROSSI E A COLÔNIA CECÍLIA



Giovanni Rossi




Giovanni Rossi ( pseudônimo Cardias) ( 1856 - 1943) foi um anarquista italiano, engenheiro agrônomo e médico veterinário de profissão, escritor que por influência dos socialistas libertários experimentalistas franceses ( socialistas utópicos no jargão marxista), escreveu uma série de livros sobre a criação de comunidades experimentais. Foi membro da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) de Pisa, fundou a Colônia Agrícola Experimental em Cittadella em Cremona, e ganhou notoriedade ao tentar implementar a colônia experimental Cecília no ano de 1890, em território brasileiro, na cidade de Palmeira, estado do Paraná.

Biografia     

 Nascido em uma família de profissionais liberais, filho de pai advogado e mãe de uma tradicional família de médicos da cidade de Pisa, desde cedo Rossi é educado por tutores para seguir as profissões pré-existentes na família - medicina ou advocacia. Contrariando o desejo dos pais, escolhe estudar agronomia e veterinária na Escola Normal Superior de Agronomia onde se diploma em cirurgia veterinária. Em seu período de graduação tem contato com a literatura  socialista antiautoritária e logo passa a militar no partido socialista clandestino de Montescudaio.

Uma comuna socialista

 Entre 1878 e 1891 sob o pseudônimo de Cardias, Giovanni Rossi publica uma série de cinco livros chamada Une communesocialiste  (Uma  comuna socialista), na qual a personagem principal é uma mulher chamada Cecília. Neste ensaio o autor apresenta a história de uma comunidade libertária e coletivista, uma vila imaginada através da qual, critica a religião, a propriedade privada e a família nuclear. Em Novembro do mesmo ano Rossi é preso por suas idéiasantiestatais sendo liberado somente em abril de 1879 quando o caso é arquivado.
 Como osa demais membros da Internacional Rossi é perseguido pela repressão estatal italiana de sua época. Considerada marginal no contexto da política italiana de então, a proposta de Rossi vai ao encontro do projeto dos anarcosindicalistas e marxistas que divididos entre si apostavam na insurreição revolucionária como meio de transformação social. Se distanciando do inssurreicionalismo a proposta de Giovanni Rossi envereda para a possibilidade de resolução dos problemas sociais, do capitalismo e do estadismo - através do socialismo experimental cientificamente fundamentado, mais conhecido como comunismo experimental.

A Cittadella

 Após a prisão muda-se para Brescia onde, alguns anos depois em 1886 começa a publicar com Andrea Costa o jornal LoSperimentale( O Experimento), defendendo a criação de colônias cooperativas horizontais.
 Sua primeira tentativa em constituir uma comuna experimental acontece em Lagoa Lombardo, em Cremona, onde com o apoio do proprietário de uma pequena fazenda adquire uma área onde o solo será cultivado e as instalações erguidas. Em 11 de Novembro de 1887 é fundada a AssociationAgricoleCoopérative de Cittadella( Associação Agrícola Cooperativa de Cittadella) que rapidamente atinge resultados surpreendentes na produção agrícola a ponto de, no Expo Paris de 1889 a "massa falida''daCittadella- como eram chamados por seu críticos - recebem medalha de prata por seu êxito na qualidade e quantidade de seus produtos agrícolas.
 Apesar dos excelentes resultados, Rossi não estava plenamente satisfeito com a "experiência", já que, apesar de ser verdade que a Cittadella era completamente autogestionada e que nela todo trabalho havia sido coletivizado, e seus ganhos socializados, essas transformações no plano do trabalho não levaram a transformações nas relações pessoais entre trabalhadores. Nesse sentido Rossi considerava que o experimento da Cittadella não atingira êxito no sentido de estabelecer meios de coexistência libertários.
 Abandonando o projeto, Rossi decide por uma nova experiência de outro lugar onde possa ser possível estabelecer um verdadeiro laboratório social, apresentando melhores condições de avaliação. Pouco a pouco Rossi se volta para a possibilidade de mover seu experimento para a América e começa a procurar um local que pudesse oferecer maior possibilidade de êxito.


A Colônia Cecília



 A Colônia Cecília foi uma experiência anarquista do italiano Giovanni Rossi, no ano de 1890 no Estado de Paraná. 

Giovanni Rossi foi membro da I Internacional (torna-se membro em 1873) e desde sua adesão, manteve acesso o projeto de formar uma colônia experimental baseada no princípios de autogestão de sua economia, política e liberdade plena aos participantes. Nos meios libertários sua iniciativa não foi bem vista e criticavam esse caráter de fuga da luta que a imagem de uma colônia fazia. 
A Colônia Cecília não foi a primeira colônia coordenada por Rossi, anteriormente, na própria Itália, desenvolveu algumas, sendo a mais conhecida a da Cittadella, na aldeia de Stagno Lombardo (norte da Itália) e que é abandonada em 1889. Mas isso não tira de Rossi sua disposição para tal iniciativa.
 Após a longa travessia de barco, os pioneiros desmbarcam no Brasil, Rio de Janeiro e mudam a decisão de irem para Porto Alegre. Irão para o Paraná, pelo acordo com o governo. Nos priemiros dias de abril, ele e seu  companheiro Evangelista Bendetti, acampam na região que seria a colônia, perto da cidade de Pameira (18 km).       
 Não há confirmação oficial de um tratado entre o Imperador e Giovanni Rossi a respeito de doação de terras, portanto é uma afirmação sem apoio histórico, o fato é que ele recebeu do recente governo republicano, a concessão de algumas terras com o acordo de que em 5 anos que as pagasse, transferindo assim a colônia o direito de posse, isso não aconteceu. Neste início, por perto de 16 pessoas, sendo apenas 1 mulher é que começam o trabalho da terra, “sem regulamentos nem chefes”. 

Preparam o terreno e constroem alojamentos e depósitos de equipamentos e mantimentos, bem com cercados para os animais recém adquiridos. Tudo corre bem e no final de 1890, Rossi parte para Itália com o objetivo de obter mais voluntários para o projeto. Esses chegam em levas sucessivas, chegando aproximadamente à 200 pessoas em maio de 1891 (ver quadro populacional no livro). A estrutura da recente colônia não suporta o grande aumento, surgindo assim vários problemas consequentemente. Falta espaço nos alojamentos e há falta de alimentos. Em tal situação de emergência, formam um grupo de voluntários para trabalhar nas estradas do Governo. Outra alternativa usada foi a obtenção de crédito com os comerciantes, em Palmeira (lastreado no trabalho nas estradas). No entanto, a comunidade se mantém (produção de tijolo, aumento da horta, ampliação dos alojamentos etc).
 No entanto, no aumento da população da colônia e seu estado de pobreza generalizado, gera nos participantes, muitos dos quais, não tinham nenhum contato com o movimento trabalhador internacional ou conhecia as vertentes do socialismo, competitividade e um egoísmo forte se instalam em muitos (a sobrevivência vence a cooperatividade no grupo). Neste meio, instala-se o modelo político parlamentar e a ditadura de algumas famílias, corrompendo os princípios libertários de autogestão e coletividade/liberdade social. 
 Com um ambiente totalmente desestruturado, muitas famílias retiram-se da colônia, indo para a Curitiba. Em junho de 1891, restavam na colônia, sete famílias em disputa.  No mesmo mês, tento a frente sete jovens, reestruturam a colônia em moldes libertários (autogestão e liberdade plena).  Esta forma dura uns 4 meses, tento na colônia umas 30 pessoas. Por este período Rossi retorna a colônia, pois ele é a ponte entre a colônia e o mundo proletário, escrevendo e apresentando a colônia ao mundo, convocando voluntários.
No fim de 1891 chega mais dois grupos de famílias, sendo que a população da colônia chega aproximadamente a 100 pessoas. Embora uma revigorada na comunidade, não se alivia muito a situação de competitividade e rivalidade, chegando mesmo a criar uma corporação informal de família (comparação de quem trabalha e quem não trabalha). Algumas famílias procuram se estabelecer independentemente da colônia. Como se verificava, a situação havia estagnado na colônia provocando um descontentamento e forçando a saída de muitos da colônia. Em abril 1892, o decréscimo populacional é muito grande, não há mais do que 40 pessoas na comunidade. Rossi solicita então a Cappellaro ir a Itália, para convocar novos voluntários para colônia.
 Neste período, alguns ex-participantes (os Gattai estão no meio) da colônia são presos por roubo, contribuindo para uma má imagem da comunidade (até então era boa e regular nas redondezas da colônia). Após este incidente, observa-se um deterioramento nas relações sociais da colônia e a sociedade brasileira em sua volta, sendo que o governador do Paraná pede observação severa da colônia. A favor esta apenas a imprensa local, que procura desassociar a imagem de criminalidade dos ex-membros da colônia com a própria colônia, este apoio embora importante, é muito pequeno perto da campanha maciça contra a “famigerada colônia”. 
No final de 1892, chega uma nova leva de famílias à colônia, subindo o número populacional para umas 80 pessoas. Os problemas anteriores, no entanto, se mantém, o autoritarismo de algumas famílias abafam o ardor libertário das novas famílias que chegam. Em 1893, há como houve anteriormente, saídas das famílias, descontentes com as condutas autoritárias de uns poucos. No período estima-se na colônia umas 50 pessoas. Após 3 anos de experiências da colônia, é apresentada a imprensa anarquista internacional um balanço geral da colônia. Rossi, sendo sincero, com sua perseverança  diminuída, apresenta reflexões críticas sobre a colônia, destacando as heranças burguesas que não são abandonadas na comunidade (inveja, gula, autoritarismo, intolerância etc). No aspecto sexual, Rossi apresenta um caso de um triângulo amoroso consentido, por parte do marido, de sua esposa por um outro. O ciúme e a dificuldade de lidar com situação são apresentados por Rossi. A falta de companheiras na colônia é um aspecto negativo que faz a moral cair. A idéia de amor livre (entende-se poligamia feminina) não é bem aceita no meio da comunidade, os conceitos conservadores e tradicionais ainda estão muito presentes nos habitantes da colônia.
 O fim da colônia esta marcada por dois fatores: A Revolução Federalista de 1893  (Maragatos e Picapaus). Os primeiros são federalistas, descentralização e autonomia dos Estados enquanto os segundos, republicanos, querem um governo forte e central. Os colonos cecilianos aderem aos Maragatos. Tal adesão à causa federalista promove uma retaliação do governo central brasileiro, confiscando e vendendo as terras da colônia. O apoio não é pela causa, mas pela atitude autoritária do governo (representantes do governo exigem pagamento de impostos e quebram instrumentos de trabalho e alojamentos da colônia).
Não há um fator especifico para o fim da colônia, mas vários que se destacaram ao longo de sua jornada, sendo que a data última da colônia seria em abril de 1894, quando as últimas famílias saem da colônia e se dispersam pelo país.




TEXTO SOBRE A DESTRUIÇÃO DO ESTADO

A destruição do Estado é algo que deve ser levado a sério por toda a sociedade, se realmente pretende romper com as desigualdades sociais e mazelas que nos atingem.

Ao contrário que omitem, o Estado Moderno não é algo natural, tem data de criação e atende principalmente um grupo social  em vez de toda a sociedade. Após alguns séculos o Estado Moderno se aperfeiçoou a ponto de se tornar, assim como ocorreu na religião, uma criatura que controla o criador, através de dispositivos como a educação, a legislação, envolvidos com uma cultura pró-Estado recheada de patriotismo e nacionalismo, tudo isso criações humanas datadas e artificiais que buscam gerar emoções que qualquer senso racional e critico sincero não consideraria verdadeiro para a humanidade trilhar caminhos de bem estar e liberdade. 
O modelo que se apoia no Estado é uma amplificação dos preconceitos dos grupos controladores, dominantes que podem expressar e se fazer impor através da estrutura que construíram e onde se escondem, possuem elos de ligação e um observador verá que existe uma tensão entre esses grupos de poderosos, pela primazia do Estado e tudo que ele pode oferecer de vantajoso ao grupo que consegue assumir o controle. Essas ligações entre setores sociais e o Estado, através de sindicatos, partidos, associações e organizações dos diversos fins e setores formam um corpo heterogêneo de influência e que realmente consegue pelos bastidores do Estado, ter suas necessidades atendidas e encaminhadas, deixando de fora boa parte da população. Para alguns isso é relação de classes, o nome é de menos para a exploração e opressão real.
Cientes dessa omissão, a sociedade e principalmente quem está fora desse jogo, deve se organizar e salientamos, se auto-organizar de forma a romper com o modelo estatal totalitário e suas variações mais ou menos hierarquizadas, autoritárias e representativas. São fachadas discursivas de liberdade e democracia que levam a uma prática real de controle e submissão, pois no bastidores do poder não há espaço para a participação popular contínua e esse poder não tolera pressão e uma contra poder sempre o ameaça profundamente, teme que consigamos a tão “utópica” união e gerar o perigo de ruptura revolucionária. É por essa razão que todos os movimentos sociais, principalmente esses que não conseguem se inserir ou controlar e ainda provocam uma resposta de forma agressiva, retribuindo toda a violência estatal acumulada, são caracterizados com inconsequentes, imorais, irracionais, terrorista e qualquer adjetivo que possa justificar a importância da “ordem” que um Estado possa oferecer, mas não o fez até agora e não faz se não for vantajoso para os grupos que o fez e o controla.
Entenda que o Estado não é obra dos miseráveis, dos pobres, dos oprimidos e sim é uma construção de poderosos, com poderosos e para sobretudo assegurar vantagens aos poderosos. Nessa equação, sempre estamos de fora, recebendo as sobras que as ambições e ganâncias possam deixar. É excludente, perverso e inviável para um prazo longo, porque exaure os recursos naturais e concentra riquezas em pequenos grupos, gerando um prejuízo para toda sociedade. As mazelas continuam e dificilmente serão resolvidas dentro da lógica competitiva que alimenta esse modelo de Estado/ hierarquizado/ autoritário/ representativo. 
Repetimos nossa proposta: a sociedade, a gente, se auto-organizar, assumir todas as tarefas relacionadas aos nossos interesses de forma direta, sem representantes. Isso é possível, pois se o modelo que nos oprime e explora é uma construção humana, temos a força, conhecimento para destruir o que nos flagela e construir algo novo que não oprima e não explore ninguém, o que exige um compromisso libertador muito maior do que uma disciplina repressora. 
Assumamos o controle, levamos um novo mundo em nossos corações!


Ativista do Anarkio.net

sábado, 18 de julho de 2015

A MÚSICA SOCIEDADE ALTERNATIVA COM BRUCE SPRINGSTEEN

RIO APA E O SONHO DE UMA SOCIEDADE ALTERNATIVA

FILME: PANTERAS NEGRAS

MANO BROWN SOBRE A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

MORTE E VIDA SEVERINA( ANIMAÇÃO)


Morte e Vida Severina em Desenho Animado é uma versão audiovisual da obra prima de João Cabral de Melo Neto, adaptada para os quadrinhos pelo cartuinista Miguel Falcão. Preservando o texto original, a animação 3D dá vida e movimento aos personagens deste auto de natal pernambucano, publicado originalmente em 1956. Em preto e branco, fiel à aspereza do texto e aos traços dos quadrinhos, a animação narra a dura caminhada de Severino, um retirante nordestino, que migra do sertão para o litoral pernambucano em busca de uma vida melhor.

FILME: TEMPOS MODERNOS

Um operário de uma linha de montagem, que testou uma "máquina revolucionária" para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela "monotonia frenética" do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Ele deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra uma crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador comunista, que liderava uma marcha de operários em protesto. Simultaneamente uma jovem rouba comida para salvar suas irmãs famintas, que ainda são bem garotas. Elas não tem mãe e o pai delas está desempregado, mas o pior ainda está por vir, pois ele é morto em um conflito. A lei vai cuidar das órfãs, mas enquanto as menores são levadas a jovem consegue escapar.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

RACIONAIS: MARIGHELLA

QUEM FOI MARIGHELLA? Carlos Marighella nasceu em Salvador, Bahia, em 5 de dezembro de 1911. Era filho de imigrante italiano com uma negra descendente dos haussás, conhecidos pela combatividade nas sublevações contra a escravidão. De origem humilde, ainda adolescente despertou para as lutas sociais. Aos 18 anos iniciou curso de Engenharia na Escola Politécnica da Bahia e tornou-se militante do Partido Comunista, dedicando sua vida à causa dos trabalhadores, da independência nacional e do socialismo. Conheceu a prisão pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor Juracy Magalhães. Libertado, prosseguiria na militância política, interrompendo os estudos universitários no 3o ano, em 1932, quando deslocou-se para o Rio de Janeiro. Em 1o de maio de 1936 Marighella foi novamente preso e enfrentou, durante 23 dias, as terríveis torturas da polícia de Filinto Müller. Permaneceu encarcerado por um ano e, quando solto pela “macedada” – nome da medida que libertou os presos políticos sem condenação -- deixou o exemplo de uma tenacidade impressionante. Transferindo-se para São Paulo, Marighella passou a agir em torno de dois eixos: a reorganização dos revolucionários comunistas, duramente atingidos pela repressão, e o combate ao terror imposto pela ditadura de Getúlio Vargas. Voltaria aos cárceres em 1939, sendo mais uma vez torturado de forma brutal na Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, mas se negando a fornecer qualquer informação à polícia. Na CPI que investigaria os crimes do Estado Novo o médico Dr. Nilo Rodrigues deporia que, com referência a Marighella, nunca vira tamanha resistência a maus tratos nem tanta bravura. Recolhido aos presídios de Fernando de Noronha e Ilha Grande pelo seis anos seguintes, ele dirigiria sua energia revolucionária ao trabalho de educação cultural e política dos companheiros de cadeia. Anistiado em abril de 1945, participou do processo de redemocratização do país e da reorganização do Partido Comunista na legalidade. Deposto o ditador Vargas e convocadas eleições gerais, foi eleito deputado federal constituinte pelo estado da Bahia. Seria apontado como um dos mais aguerridos parlamentares de todas as bancadas, proferindo, em menos de dois anos, cerca de duzentos discursos em que tomou, invariavelmente, a defesa das aspirações operárias, denunciando as péssimas condições de vida do povo brasileiro e a crescente penetração imperialista no país. Com o mandato cassado pela repressão que o governo Dutra desencadeou contra o comunistas, Marighella foi obrigado a retornar à clandestinidade em 1948, condição em que permaneceria por mais de duas décadas, até seu assassinato. Nos anos 50, exercendo novamente a militância em São Paulo, tomaria parte ativa nas lutas populares do período, em defesa do monopólio estatal do petróleo e contra o envio de soldados brasileiros à Coréia e a desnacionalização da economia. Cada vez mais, Carlos Marighella voltaria suas reflexões em direção do problema agrário, redigindo, em 1958, o ensaio “Alguns aspectos da renda da terra no Brasil”, o primeiro de uma série de análises teórico-políticas que elaborou até 1969. Nesta fase visitaria a China Popular e a União Soviética, e anos depois, conheceria Cuba. Em suas viagens pôde examinar de perto as experiências revolucionárias vitoriosas daqueles países. Após o golpe militar de 1964, Marighella foi localizado por agentes do DOPS carioca em 9 de maio num cinema do bairro da Tijuca. Enfrentou os policiais que o cercavam com socos e gritos de “Abaixo a ditadura militar fascista” e “Viva a democracia”, recebendo um tiro a queima-roupa no peito. Descrevendo o episódio no livro “Por que resisti à prisão”, ele afirmaria: “Minha força vinha mesmo era da convicção política, da certeza (...) de que a liberdade não se defende senão resistindo”. Repetindo a postura de altivez das prisões anteriores, Marighella fez de sua defesa um ataque aos crimes e ao obscurantismo que imperava desde 1o de abril. Conseguiu, com isso, catalisar um movimento de solidariedade que forçou os militares a aceitar um habeas-corpus e sua libertação imediata. Desse momento em diante, intensificou o combate à ditadura utilizando todos os meios de luta na tentativa de impedir a consolidação de um regime ilegal e ilegítimo. Mas, mantendo o país sob terror policial, o governo sufocou os sindicatos e suspendeu as garantias constitucionais dos cidadãos, enquanto estrangulava o parlamento. Na ocasião, Carlos Marighella aprofundou as divergências com o Partido Comunista, criticando seu imobilismo. Em dezembro de 1966, em carta à Comissão Executiva do PCB, requereu seu desligamento da mesma, explicitando a disposição de lutar revolucionariamente junto às massas, em vez de ficar à espera das regras do jogo político e burocrático convencional que, segundo entendia, imperava na liderança. E quando já não havia outra solução, conforme suas próprias palavras, fundou a ALN – Ação Libertadora Nacional para, de armas em punho, enfrentar a ditadura. O endurecimento do regime militar, a partir do final de 1968, culminou numa repressão sem precedentes. Marighella passou a ser apontado como Inimigo Público Número Um, transformando-se em alvo de uma caçada que envolveu, a nível nacional, toda a estrutura da polícia política. Na noite de 4 de novembro de 1969 – há exatos 30 anos -- surpreendido por uma emboscada na alameda Casa Branca, na capital paulista, Carlos Marighella tombou varado pelas balas dos agentes do DOPS sob a chefia do delegado Sérgio Paranhos Fleury.

FILME: OCCUPATION 101 - A VOZ DA MAIORIA SILENCIADA

Sinopse: O filme trata das raízes históricas do conflito entre Israel e Palestina, abrangendo uma ampla gama de assuntos, entre os quais: a primeira onda de imigração dos judeus europeus para a região da Palestina nos anos de 1880; as tensões dos anos de 1920; as guerras de 1948 e 1967; a primeira Intifada de 1987; o processo de paz de Oslo; a expansão dos acampamentos judeus; o bloqueio econômico e a ocupação de Israel na Faixa de Gaza; o papel dos EUA no conflito; o testemunho das vítimas da ocupação israelense. Ficha técnica: Ano: 2006 País: Federação dos Estados da Micronésia, Estados Unidos Gênero: Documentário Duração: 90 minutos Direção: Abdallah Omeish, Sufyan Omeish

quarta-feira, 15 de julho de 2015

O LIBERTÁRIO: LIMA BARRETO

O libertário Lima Barreto 

 (por: W.B.)

  Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em 1881. Seu pai, o tipógrafo João Henriques, era mestiço, filho de escrava e de um português que nunca lhe reconhecera a paternidade. Amália Augusta Barreto, professora, mãe de Lima, era filha de uma negra da segunda geração de escravos da família Pereira de Carvalho.
 João Henriques tinha o sonho de ver o filho com prosperidade e reconhecimento social. Afonso teria nascido, porém, sob um signo ruim. Veio ao mundo numa sexta-feira 13 de maio, dia de Nossa Senhora dos Mártires. Mas o martírio de Lima parece advir mais da época e local de seu nascimento (a retrógrada sociedade brasileira de fins do século 19) que da data supostamente agourenta em que por acaso se deu.  No dia em que completara sete anos de idade, Lima foi levado pelo pai para um passeio pelo Rio de Janeiro. A cidade estava em festa: era a abolição da escravatura. O menino Afonso não tinha muita noção, até aquele momento, do que vinha a ser escravidão. De fato nunca havia visto escravos, já que eles não eram frequentes na cidade do Rio por aquela época, sendo considerados símbolos de provincianismo e atraso, inadequados a um grande centro. 
 Em meio aos festejos, ecoava pelas ruas uma palavra que viria a se tornar quase sagrada para Lima Barreto: liberdade. Para o menino, parecia que, a partir daquele momento, tudo era permitido, não havia mais barreiras, empecilhos à felicidade. Mas Afonso, órfão de mãe desde o ano anterior, ainda passaria muitos dissabores na vida.
 No ano seguinte, 1889, dava-se a proclamação da República. Aos olhos de Lima, este acontecimento não trazia nenhuma alegria como a presente nas ruas do Rio no ano anterior. Pelo contrário: o que se via era a população assustada sem entender direito o que estava acontecendo. Militares tomavam o governo e alardeavam grandes melhorias sociais. Mas estas não surgiram. O poder apenas mudara de mãos. 
 Os que de alguma forma estavam envolvidos com o regime anterior eram perseguidos, enquanto os bajuladores dos novos donos do poder galgavam altas posições sem esforço ou mérito. João Henriques ficara em uma situação delicada. Era funcionário da Imprensa Nacional e compadre do Visconde de Ouro Preto. Logo os antigos laços com a monarquia, e o estigma decorrente deles, tornariam insuportável para João sua permanência no cargo. Pediu demissão antes que ela lhe fosse imposta. 
 Em março de 1890, João Henriques conseguiu emprego como escriturário das Colônias de Alienados da Ilha do Governador. Seu coração guardava grandes esperanças de o filho se tornar doutor e não passar pelas humilhações e decepções de que ele próprio fora vítima. Com muito esforço, e auxílio de alguns conhecidos ilustres, garantiu ao menino um bom estudo no afamado Liceu Popular Niteroiense e no Colégio Paula Freitas.
 Em 1897, Afonso Henriques de Lima Barreto ingressou na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Logo de início, deparou-se com o racismo; um veterano diria sobre o recém-admitido: “Que audácia um mulato usar o nome do rei de Portugal!” No curso ainda enfrentaria perseguição de professores e antipatia de boa parte do alunado em virtude de sua cor e também de sua independência de pensamento. 
 Cedo demonstrou preocupações políticas, tendo inclusive ingressado na chamada Federação de Estudantes. Acabara, no entanto, por abandoná-la em virtude de esta ter se posicionado em favor do regime militar obrigatório. 
 Por indicação do colega Bastos Tigres, Lima Barreto começou a escrever no jornal estudantil A Lanterna, o qual se definia como “órgão oficioso da mocidade de nossas escolas superiores”. Futuramente viria a escrever para outro A Lanterna (autodefinido como “jornal anticlerical”), deixando clara sua filiação ao Anarquismo. Mas mesmo neste primeiro momento na imprensa estudantil, a pena de Lima dá mostras de sua vocação libertária, manifestada em críticas ferrenhas e ironias demolidoras. Era impressionante ver como aquele rapaz tímido se expressava desenvolta e corajosamente por escrito.
 Em 1902 João Henriques enlouqueceu: dormiu são e acordou doente. Trágico. Inexplicável. Afonso se viu forçado a abandonar a Escola Politécnica. Prestou concurso para funcionário civil do Ministério da Guerra, foi aprovado. O ambiente do trabalho desgostava-o. Suas convicções antimilitaristas faziam-no detestar o Ministério. Foi lá, porém, que conheceu o anarquista Domingos Ribeiro Filho que viria a influenciá-lo teoricamente. 
 Iniciou, no Correio da Manhã, uma série de reportagens sob o título “Os Subterrâneos do Morro do Castelo”. O Morro do Castelo era para Lima um interesse frequente. A modificação da paisagem original do Rio de Janeiro sempre lhe parecera um crime. Vê-se que o escritor foi pioneiro nas preocupações em relação à Ecologia e ao patrimônio histórico. Nestas crônicas para O Correio da Manhã, Lima foi introduzindo elementos ficcionais, já que sua veia literária começava a falar mais alto que a vocação jornalística. Ainda assim sentia falta de uma maior liberdade de criação. Foi aí que, junto com outros intelectuais libertários – como Curvelo de Mendonça, Domingos Ribeiro Filho e Elísio de Carvalho –, Lima fundou a revista Floreal em 1907. Tratava-se de uma publicação com preocupações literárias, filosóficas e políticas que buscava dar voz aos escritores e pensadores autênticos que não se rebaixavam a tornar o texto um adorno social, uma bajulação aos poderosos ou um passatempo inofensivo e alienante. Na revista, Lima Barreto começou a publicar capítulos do romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha, porém ela acabou não passando do quarto número. 
 Como publicaria o romance? As editoras brasileiras não o aceitavam... Enviou os originais para Portugal e acabou conseguindo que o editor A. M. Teixeira o publicasse. O livro é agressivo, contundente. Era fácil, na época, identificar as pessoas nas quais Lima havia se baseado para criar seus personagens. As críticas eram direcionadas sobretudo ao Correio da Manhã. Em Recordações do Escrivão Isaías Caminha estava presente toda a redação daquele jornal e também muitas outras figuras conhecidas da sociedade de então. O livro, porém, não ficaria datado nem traria críticas demasiadamente particulares. A narração da trajetória de Isaías Caminha constitui um ataque à imprensa burguesa em geral, ao falso moralismo, ao Capitalismo e à sociedade hierárquica, permanecendo atual mesmo com o passar dos anos. 
 Lima estava feliz: conseguira publicar. A edição foi posta à venda em dezembro de 1909. Aguardou as críticas que certamente viriam. Se falassem bem, seria ótimo. Caso atacassem o livro, também não haveria problema, pois a polêmica em torno do romance faria com que as idéias presentes nele fossem debatidas. Lima não era homem de temer críticas: negro, anarquista e pobre, recebia-as o tempo todo. Mas ocorreu a única coisa da qual não tinha como se defender: o silêncio.
 O boicote ao nome de Afonso Henriques de Lima Barreto se deu principalmente no Correio da Manhã, de Edmundo Bittencourt. Mas não se restringiu a este jornal. Toda a imprensa burguesa, subserviente a Bittencourt e antipática às idéias de Lima, se negou a comentar o romance. 
 Mesmo assim o escritor conseguiu que, a 11 de agosto de 1911, o Jornal do Comércio iniciasse a publicação, em folhetins, de Triste Fim de Policarpo Quaresma. Trata-se de um romance em que Lima troça do Nacionalismo, personificado na figura ridícula do patriota Policarpo Quaresma. A narrativa retrata militares e políticos como pessoas covardes e sem caráter, caricaturando até mesmo o Presidente Floriano Peixoto. Mas o ousado romance alcançou pequena repercussão naquele momento. 
 Em setembro de 1912, o escritor publicava Aventuras do Doutor Bogóloff, obra mais explicitamente humorística, mas também dotada de caráter crítico. Bogóloff é um anarquista russo que se envolve em várias aventuras pelo Brasil, sempre se admirando dos curiosos hábitos locais e de nossa sociedade de valores tão deturpados e esdrúxulos. Mais tarde, em 1918, Lima escreveria crônicas para o jornal libertário A Lanterna com o pseudônimo de Dr. Bogóloff.
 Em 15 de março de 1915, o jornal A Noite inicia a publicação, em folhetins, de Numa e a Ninfa. Esta narrativa ataca mais diretamente os políticos, a corrupção e a moral sexual burguesa com suas falsidades. Chega a conter personagens que fazem vista grossa em relação a casos extraconjugais das esposas, visando a melhores posições no governo. O texto explicitamente retrata as classes dominantes como hipócritas e anti-éticas.  1916 seria um bom ano para Lima Barreto. Triste Fim de Policarpo Quaresma foi publicado em livro: uma bela edição de capa dura. 
Desta vez o romance chamou a atenção de críticos e chegou a ser elogiado. Neste formato suas qualidades literárias ficaram mais visíveis. Com o texto reunido num só volume, ficam mais explícitas a coerência interna e a coesão da narrativa. O livro divide-se em três partes com aproximadamente a mesma extensão, e que correspondem às tentativas de reforma empreendidas pelo personagem principal. Na primeira, Policarpo Quaresma tenta empreender uma reforma através da cultura, buscando as raízes da brasilidade no folclore e nos costumes das populações autóctones. Descobre que quase todas as danças, músicas e festas populares locais tinham origem estrangeira. Conclui que até mesmo o idioma falado no Brasil veio de fora e portanto deveria ser substituído. O trecho termina com Policarpo indo parar no hospício, em virtude de suas manias nacionalistas. Fica demonstrado que as culturas se interpenetram e que a própria ideia de uma cultura nacional é, em última análise, inconcebível. 
 Na segunda parte do romance, Policarpo tenta empreender uma regeneração da pátria através da agricultura, mas se depara com a politicagem e as injustiças características da organização social vigente. Vê que o Brasil não é a terra abençoada por Deus em que “em se plantando tudo dá”. Fica demonstrado que iniciativas baseadas no ufanismo e na crença da superioridade natural de qualquer região são incapazes de corrigir problemas locais, por estes terem raízes na estrutura social.
 Ao fim do livro, o personagem principal – movido por seu estúpido Nacionalismo – alia-se ao Presidente Floriano Peixoto para combater a Revolta da Armada (1893). Aí é que se dará seu triste fim anunciado no título do livro, e que explicita toda a hediondez do patriotismo. 
 Aliás, Lima Barreto sempre demonstra em seus escritos uma aversão ao Nacionalismo. Em Recordações do Escrivão Isaías Caminha, quando o personagem é preso injustamente murmura cheio de ódio: “A pátria...”. E o próprio Policarpo Quaresma acabaria concluindo que a pátria é “um mito, (...) um fantasma, (...) uma ilusão, uma idéia (...) que nascera da amplificação da crendice dos povos grego-romanos de que os ancestrais mortos continuariam a viver como sombras e era preciso alimentá-las para que eles não perseguissem os descendentes”. Tal posicionamento é coerente com o Internacionalismo assumido pelos anarquistas, entre os quais Lima Barreto se inclui. Apesar dos riscos, o escritor chegava, em alguns momentos, a explicitar sua filiação ideológica. No livro de observações clínicas do Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil consta que, em sua primeira estada no hospício em agosto de 1914, declarara que “adota as doutrinas anarquistas e quando escreve deixa transparecer, debaixo de linguagem enérgica e virulenta, os seus ideais”. 
 Voltaria a ser internado em 1917. Neste mesmo ano, em carta a Rui Barbosa datada de 21 de agosto, veio a se declarar candidato à Academia Brasileira de Letras na vaga de Souza Bandeira. A candidatura, porém, não foi sequer considerada. No mês seguinte surgiu, em livro, Numa e A Ninfa, bem como a segunda edição de Recordações do Escrivão Isaías Caminha.
 Barreto continuou ousado e desafiador. Apesar de sua delicada posição de funcionário público e arrimo de família, lançou, na revista ABC, o texto que viria a ser conhecido como Manifesto Maximalista. Trata-se uma defesa da insurreição popular, e de um elogio da então recente Revolução Russa, de que os anarquistas também tiveram participação, e a qual se acreditava pudesse conduzir à autogestão generalizada. Sempre coerente, Lima Barreto suspenderia a colaboração a ABC em 1919 pelo fato de ter sido publicado um artigo contra a raça negra, nessa revista.
 Insistente, Lima voltou a se candidatar à Academia Brasileira de Letras em 1919, desta vez na cadeira de Emílio de Menezes. Como era de se esperar tendo em vista o caráter conservador que a ABL manifestava desde o início, ele perde. No ano seguinte, apresentou Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá como candidato ao prêmio da Academia Brasileira de Letras para melhor livro publicado no ano anterior. Alcançou apenas uma menção honrosa.
 Candidatou-se ainda uma 3ª vez à ABL, talvez como pura provocação. Tanto sabia da impossibilidade de a conservadora academia conceder-lhe a vaga de João do Rio que, pouco tempo depois, retirou a candidatura. 
 Na tarde de 1º de novembro de 1922, dia de Todos os Santos, o escritor Afonso Henriques de Lima Barreto morria de gripe toráxica e colapso cardíaco. Para o velório, à noite, começaram a chegar, tristes, os conhecidos do escritor: gente simples do subúrbio, amigos humildes de botequins, compadres e afilhados. Surgiu no meio deles um homem desconhecido de todos com um pequeno ramalhete de perpétuas. Depois de espalhá-las respeitosamente no caixão, descobriu-lhe o rosto e – de lágrimas nos olhos – beijou-lhe a testa. Quando perguntaram ao homem sua identidade, respondeu ser apenas mais um que leu e amou Lima Barreto, este grande amigo dos desvalidos. Que Lima Barreto seja sempre valorizado pelo povo que tanto amou. Que sua escrita seja vista como o que de fato é: uma obra de arte corajosa e empenhada em gerar entendimento entre os seres humanos, contribuindo para dar voz àqueles excluídos que a sociedade autoritária acha indigno retratar.

sábado, 11 de julho de 2015

ANARCHY IN THE UK: SEX PISTOLS

MY WAY

FILME: FAHRENHEIT (FARSA DO 11 DE SETEMBRO)






Fahrenheit 9/11 é um documentário americano de 2004 escrito, estrelado e dirigido pelo cineasta estadunidense Michael Moore. Fala sobre as causas e consequências dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, fazendo referência à posterior invasão do Iraque, liderada por esse país e pela Grã-Bretanha. Além disso, tenta decifrar os reais alcances dos vínculos que existiriam entre as famílias do presidente George W. Bush e a de Osama bin Laden.





sexta-feira, 29 de maio de 2015

É PRECISO TRANSFORMAR O DIA 21/08, DIA DA MORTE DO MALUCO BELEZA, RAUL SEIXAS, EM UM DIA DE LUTA



Eu já ultrapassei a barreira do som
Fiz o que pude às vezes fora do tom
Mas a semente que eu ajudei a plantar já nasceu!!!                                         
Eu vou embora apostando em vocês
Meu testamento deixo minha lucidez
Vocês vão ter um mundo bem melhor que o meu!!!
[...] Vocês serão o oposto dessa estupidez
Aventurando tentar outra vez
A geração da luz é a esperança no ar!!!

  Na música ”Geração da Luz”, Raul  nos dizia que a semente que ele ajudou a plantar já nasceu  e delega para  quem entendeu suas ideias, a tarefa de dar continuidade a elas. Após 26 anos de sua morte,  sentimos a necessidade de transformar a data do dia 21/08 em um dia de luta e, a partir daí, também quem não está engajado nas lutas diárias por nossos direitos repensar suas ações, pois só assim faremos com que a semente que Raul deixou realmente dê frutos. Não podemos apenas sair às ruas todo dia 21/08 em clima de festa para lembrá-lo e depois voltarmos para casa e tudo acaba. Temos certeza que um libertário como Raulzito, que combateu a censura à liberdade de expressão, o sistema capitalista, o poder do Estado, da Igreja e da Polícia, não se conformaria só com isso.
  Raul e Zé Geraldo deixaram claro que não podemos ficar em um apartamento “com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar” e nem “na praça dando milhos aos pombos”, enquanto tudo está acontecendo.

 Vivemos em uma sociedade dividida em classes e Raul Seixas era contrário a todo tipo de alienação que submete o individuo. Defendia uma sociedade que defendesse o individuo como único, repudiando o autoritarismo político, religioso. Posicionava-se como um anarquista.

Anarquismo é um sistema político que defende a anarquia, que busca o fim do Estado e da sua autoridade.
O termo anarquismo tem origem na palavra grega anarkhia, que significa "ausência de governo". Representa o estado da sociedade em que o bem comum resultaria da coerente conjugação dos interesses de cada um. A anarquia é contra a divisão em classes e, por consequência, é contra toda espécie de opressão de uns sobre os outros.
 O anarquismo é uma teoria política que rejeita o poder estatal e acredita que a convivência entre os seres humanos é simplesmente determinada pela vontade e pela razão de cada um.
O anarquismo recusa a reforma progressiva como meio de desenvolvimento do Estado, o qual deverá ser fruto da destruição radical da ordem estatal, por meio da ação direta.

Em letras de Raul, às vezes até desconhecidas por muitos, ele criticou e descreveu  a  sociedade capitalista de ontem e de hoje, em que a corrupção é inerente a este sistema, como podemos observar na música “Cambalache”:

"Que o mundo foi, será uma porcaria eu já sei
 Em 506 e em 2000 também
Que sempre houve ladrões, maquiavélicos e safados
Contentes e frustrados, valores, confusão
Mas que o século XX é uma  praga de maldade e lixo
Já não há quem negue
Vivemos atolados na lameira
E, no mesmo lado, todos manuseados".

 Somos vários indivíduos espalhados, neste sentido, a nossa  unidade vai abalar aqueles que sempre ignoraram o Raul, considerando-o apenas um maluco, mas no sentido pejorativo do termo. Hoje querem usá-lo para ganhar dinheiro, reforçando cada vez mais essa lógica de mercado. Um modelo econômico que leva os pobres a um comprometimento financeiro e a uma alienação imposta pela ideologia dos fetiches, em que consumir produtos cria uma sensação de bem estar e conforto.

 “Ouro de tolo” é a uma letra em que ele descreve o seu inconformismo em relação à situação vivenciada pelo cidadão, pelo trabalhador brasileiro.
 “Eu devia estar contente porque tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável e ganho quatro mil cruzeiros por mês. Eu devia estar feliz pelo Senhor ter me concedido o domingo pra ir com a família ao Jardim Zoológico dar pipoca aos macacos”.

E tudo isso corria sob um regime militar sangrento, tomado pelo medo, restando para as pessoas o comodismo, mas Raul afirmava que esta realidade poderia ser transformada:

“Ah! Eu é que não me sento no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”.

Estamos espalhados no trabalho, nas escolas e, portanto, sabemos que: "Nunca se vence uma guerra lutando sozinho".
Sambemos também o que o Raul achava dos partidos (mesmo os que apresentam em suas siglas os termos social e socialismo, trabalhadores e trabalhismo), por isso, não podemos contar  nem com eles nem com os sindicatos que estão a serviço deles. Eles acenam sempre com grandes reformas sociais e que, ao chegarem ao poder, a situação dos proletários mudará, no entanto, essa tem sido a maior ilusão na luta pela emancipação, pois você transfere sua ação para intermediários que são os grandes aliados da burguesia, pois fazem suas agitações eleitoreiras, enfraquecendo as forças dos proletariados, seus desejos de rebeldia e mudança, mas, quando as massas estão prestes a explodir, eles apontam as campanhas eleitorais como solução.
 Como bons entendedores das mensagens de Raulzito, sabemos que uma nova sociedade só será possível quando acreditarmos que a destruição do capitalismo apenas ocorrerá com o movimento real, na ação direta.  
 Temos de lutar de forma autônoma em defesa do internacionalismo, rompendo todas as barreiras entre os trabalhadores e, como dizia Che Guevara, "Se você é capaz de tremer de indignação cada vez que se comete uma injustiça  no mundo, então somos companheiros".

 Estamos aqui, tentado dialogar com aquele que realmente entendeu a mensagem  do Raul e sabe de que lado da luta de classes está. Só existem dois lados (exploradores e explorados), não existe neutralidade.
  Nós chamamos você para se unir a nossa classe (explorados), para nos juntarmos às lutas existentes e construirmos novas lutas.
 A atual conjuntura mostra, mais do que nunca, que devemos entender tudo o que está acontecendo. Além de ações, precisamos de bastante teoria, porque as duas devem caminhar juntas.

 “É nas cabeças e nos corações que as transformações têm que acontecer antes de alcançarem os músculos e se tornarem fenômenos históricos.” (Anarco–sindicalismo do século XIX). 

 Quem sabe em um destes 21/8 poderemos realizar o sonho de Raul  que ficou marcado na música “O Dia Em Que a Terra Parou”:

  "Foi assim num dia em que todas as pessoas
   Do planeta inteiro resolveram que ninguém
    Ia sair de casa, como se fosse combinado
    E em todo planeta, naquele dia,
    Ninguém saiu de casa, ninguém".  

 Podemos transformar este dia em uma grande GREVE Geral, mas para isso nós temos que batalhar bastante e tentar conscientizar fãs ou não de Raul Seixas desta necessidade.  
Raul dizia também que: 

"Tem gente que passa a vida inteira
Travando a inútil luta com os galhos
Sem saber que é lá no tronco
Que está o coringa do baralho”.

 É por isso que defendemos o voto nulo e a ação direta, por sabermos que o problema está no capital e não nos seus capachos, os candidatos que são eleitos para garantirem a mesma estrutura, sempre.


 Se você  tiver interesse em conhecer esses malucos, quer apresentar propostas, críticas e construir esta luta conosco, estamos abertos. Entre em contato:

email: metrolinha743raul@gmail.com

sexta-feira, 22 de maio de 2015

FILME: LINHA DE MONTAGEM

Documentário histórico sobre a gênese do movimento sindical de São Bernardo do Campo entre os anos de 1978 e 1981, quando se produziram as maiores greves de metalúrgicos na região, desafiando a repressão do final da ditadura militar. Radiografa-se a cidade no calor da grande efervescência das assembléias no estádio da Vila Euclides, onde os operários decidiam os novos rumos do movimento. As greves de 1979 e 1980 levaram à intervenção federal no Sindicato dos Metalúrgicos, à prisão de líderes, como Luís Inácio da Silva, processados com base na Lei de Segurança Nacional. Mercedes-Benz, Karmann-Ghia, Scania e, sobretudo a imensa fábrica da Volkswagen, passaram a dar o tom do cotidiano local. Vilas, mercados, transportes se organizaram em torno das fábricas e milhões de trabalhadores se instalaram em suas proximidades. No início daquela industrialização, de produtos pesados baseados na metalurgia, havia muitos riscos no ambiente de trabalho e a remuneração era baixa. A vida dos operários e de suas famílias era simples e com muitas restrições. Se naquela época a precariedade era quase como uma conseqüência lógica, visto que se tratava de uma situação nova, ainda em processo de consolidação, era de se esperar que com o tempo o quadro evoluísse. Mas, por força da famigerada ditadura militar, cravada no meio de nossa história recente, o que de fato ocorreu foi o agravamento das más condições. Grosso modo, os militares empreenderam um projeto econômico atrelado ao capital estrangeiro, comprometendo-se com dívidas e tendo que enxugar o orçamento interno. Isso teve impacto direto na vida dos trabalhadores dos mais baixos escalões. Sem aumento real e com a inflação correndo solta, eles viram seu poder aquisitivo diminuir mais e mais. Além disso, os trabalhadores também foram podados de seu poder de organização e reivindicação. A repressão foi o instrumento usado pelos governantes da época da ditadura para impor aquele modelo econômico, amordaçando qualquer manifestação contrária. No coração do capitalismo, o movimento operário foi o primeiro alvo, no início do golpe, em 1964. O filme foi lançado pela primeira vez em 1982, mas logo censurado pelo governo federal. Foi restaurado e relançado em 2008.

terça-feira, 19 de maio de 2015

SOBRE A GREVE DOS PROFESSORES

GOVERNO ALCKMIN/PSDB NÃO NEGOCIA COM PROFESSORES

 "Não há soluções mágicas ou milagrosas. Um bom ponto de partida é definir que só mediante a ação livre e direta de todos os assalariados,auto-organizados a partir de seus locais de trabalho,podem esperar ser ouvidos e ter um lugar ao sol. No processo de suas lutas aprenderão a conhecer-se melhor e conhecer aqueles que em seu nome querem falar. Não há vida por procuração, cada um tem que viver a sua, assim como, não há luta por procuração, cada grupo humano tem que auto-organizar-se para travar a sua luta. A união dessas lutas será mais significativa que qualquer eleição.A solidariedade é o maior exemplo. O resto é literatura, e má.( Maurício Tratemberg")

Durante o governo do PSDB a nossa categoria sofre imensas perdas salariais e vários direitos são retirados da noite para o dia. Sofremos  cada vez mais com as péssimas condições de trabalho. Na história  da luta contra o fascismo  sempre foi preciso a unidade de todos para vence-lo, no Estado de São Paulo a política dos governos do PSDB durante 20 anos é o que há de mais fascista.

 Que fique claro:a nossa luta e contra todos os ataques desse governo contra a escola pública. Não lutamos para enfraquecer um governo de um partido e eleger outro e,sim, contra os ataques de todo seles.Seja PT
ou PSDB,onde governam estão a serviço do capital.
 Por tudo isso camaradas você tem que ser um agente de transformação, pois o conformismo de muitos também nos deixou na situação em que estamos. A luta pela educação é de todos.Saiba que, enquanto houver a divisão de classes, haverá lutas, por isso, greves sempre vão ocorrer.

 Do choque permanente de interesse surgiu a luta de classes e dessa luta o proletariado não poderá sair vitorioso se não se organizar de forma a se unir forte e consciente.

 No caso da nossa greve em especial lutar contra o seguinte rol de agressões do governo de São Paulo contra a educação:

 - divisão do professorado em diferentes categorias (F,L,O,..);
 - retirada de direitos básicos;
 - pagamento de bônus a uns, ao mesmo tempo em que não para nada a muitos outros;
 - salas de aula superlotadas,escolas degradadas;
 - terceirização dos serviços na escola e precarização das condições dos trabalhadores que realizam os serviços;
 - falta de professores e redução do número ideal de funcionários;
 - aumento da violência nas escolas;
 - doenças causadas estresse da profissão, mas que o governo nega que existe;
 - perdas salariais;
 - promoção do verdadeiro caos na saúde e na educação.

 Este mesmo governo, na proporção inversa tem dado vários benefícios a classe dos empresários/capitalistas:

 - redução da taxa de juros nos empréstimos;
 - redução dos impostos às grandes empresas;                      
 - concessões/privatizações/entrega das nossas riquezas e dos nossos recursos para a classe dos exploradores capitalistas;
 - aumento salarial aos trabalhadores abaixo da inflação, isto é quando há;
 - garantia de lucros de 100% aos grandes empresários/capitalistas em caso de "perdas"nos investimentos;

   Professores Libertários

domingo, 17 de maio de 2015

SOBRE O OPORTUNISTA PAULO COELHO

SILÊNCIO NAS CORRUPÇÕES DO PSDB

ÓDIO AO PT REVISITADO


            O denominado ÓDIO AO PT (Partido dos Trabalhadores) teve seu acirramento em 2014, antes e após as eleições gerais. Naquela ocasião, um considerável número de eleitores, insatisfeitos com o então e atual governo federal, votou no candidato rival de Dilma (presidente reeleita), o tucano Aécio Neves, fechando com chave de ouro aquele sentimento nacional de ÓDIO AO PT. Sentimento que, após a derrota do candidato Aécio, transformou-se em ódio revigorado (e amargurado) e que teve como principal argumento para atacar a presidente Dilma (do PT) os escândalos de corrupção na Petrobrás.
            Interessante que no Brasil, desde que eu era garota (e olhe que eu já tenho quase meio século de vida) ouvia denúncias de corrupção, envolvendo políticos de vários partidos. A lista inicia com Paulo Maluf (desde as pedras preciosas até obras superfaturadas), passando por Fernando Collor de Melo (e os “saques” da poupança em 1990, hoje eleito senador por seu Estado natal, Alagoas e novamente acusado de corrupção), encerrando com os tucanos Aécio Neves (com seu aeroporto familiar) e Geraldo Alckmin (com as obras do metrô), para não citar tantos outros políticos (inclusive candidatos da última eleição, alguns já falecidos).
            No entanto, a grande parcela da sociedade brasileira que hoje nutre o ÓDIO AO PT (e que agora tem como boneco do Judas para malhação a presidente Dilma) apenas consegue lembrar, lamentar e concentrar-se no escândalo de corrupção da Petrobrás.
            Se não me falha a memória, no famigerado ano em que a então ministra da economia, Zélia Cardoso de Melo, anunciou o confisco à poupança (de ricos, pobres e remediados) houve casos de suicídio (é sério, teve gente que se matou, na época) de pessoas que tiveram o “saque-assalto” de seu dinheiro. No entanto, o atual escândalo da Petrobrás é aclamado como o escândalo de maior repercussão da história da humanidade. Nem a bomba de Hiroshima ou o holocausto-massacre aos judeus consegue causar maior indignação, revolta e dor nas pessoas.
            Sim, já era esperado que a nossa reeleita presidente do PT, Dilma, não seguraria o rojão: inflação subindo, aumento de impostos, de energia elétrica, de gasolina, tudo em um único rodopio alucinado de tornado enfurecido.
            É o momento de revitalizar o ÓDIO AO PT (e agora à Dilma) para deixar clara a insatisfação contra o governo federal reeleito.
            Então surge a grande, a magnânima ideia: o PANELAÇO. Explico: uma manifestação da sociedade brasileira encabeçada e abraçada pela elite, pelos ricos insatisfeitos com a péssima administração do atual governo reeleito.
            Teve panelaço em bairro chique de São Paulo, como o Morumbi, com gente fina, usando como indumentária camisa verde-amarela, batendo panela (de Teflon) com talheres de prata, todos muito bem comportados e nas calçadas, para não atrapalhar o trânsito e as ambulâncias, assim como não incomodar os PMs (bem ao contrário daqueles “vândalos”, “bárbaros” e baderneiros dos Black blocs, que quebram portas de bancos e de lojas, ou seja, destroem a propriedade privada).
            Chega a emocionar ver a galera do panelaço contra a corrupção, contra o péssimo governo de Dilma, tendo à frente a classe alta, religiosos, skinheads, ex-ditadores militares, políticos de diversos partidos e mais um grupo de pessoas que pertencem à classe baixa, mas que estão também ali, dando seu apoio à elite porque, afinal, todos devem estar juntos, em comunhão, em verdadeira congregação de fé para manifestar seu ÓDIO AO PT (e à Dilma!).
            Afinal, está mais que provado que a culpa pela crise da água é do PT, assim como as enchentes catastróficas que alagaram a região norte do país é também culpa do PT (e da Dilma!).
            Venhamos e convenhamos: tudo o que acontece de ruim em nosso país (diga-se de passagem, só acontecem coisas ruins) é culpa do corrupto e maldito PT (assim como dela, da Dilma!).
            É justificável, pois, malhar esse Judas de saia, a presidente Dilma do PT, não importando usar epítetos depreciativos ao dirigir-se a ela como vaca, filha da puta, gorda, machona, etc. Tudo é justificável para a manutenção desse sentimento de repúdio, de indignação, de asco visceral que é o ÓDIO AO PT (e à DILMA!).
            Só fica a perguntazinha, ao final: tirar a Dilma e colocar quem no lugar dela? Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Paulo Maluf, o vice da Dilma, Michel Temer, alguém da família ACM, Marina Silva, Bolsonaro, Tiririca, o técnico de futebol do Corinthians, MC Bundinha, Zezé de Camargo (com ou sem o Luciano), o papa Francisco, o Silvio Santos... ???????
(professora Sônia, março de 2015)