quarta-feira, 8 de junho de 2016

"VÂNDALOS" - Capítulo 2 | Parte 1

PARA ENTENDER A HISTÓRIA É PRECISO LER, ESTUDAR, PESQUISAR, QUESTIONAR E CONSTRUIR A SUA.

A História é o estudo do passado. Esta ciência humana é de fundamental importância para entendermos o que fomos e o que somos. Um povo que conhece e valoriza sua história está mais preparado para enfrentar os desafios do futuro. A História tem como objetivo principal analisar e interpretar as ações dos seres humanos no tempo e espaço.

Para entender o momento histórico que vivemos é preciso retornar um pouco na História. Vamos agora estudar um pouco de teoria numa série de postagens sobre aqueles que lutaram contra o poder estabelecido, desde a Antiguidade e que foram por isso denominados "vândalos".

TEORIA PARA A LUTA - "VÂNDALOS"


Capítulo 1 - O termo "Vândalos"
http://abre-tesesamo.blogspot.com.br/2016/05/para-entender-historia-atual-e-preciso.html




Capítulo 2 - Marginal | parte 1

A ESCRAVIDÃO (denominada ainda de escravismo ou escravatura) é a prática social em que um ser humano tem direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da FORÇA.
A escravidão pode ser definida como o sistema de trabalho no qual o indivíduo (o escravo) é propriedade de outro, podendo ser vendido, doado, emprestado, alugado, hipotecado, confiscado. Legalmente, o escravo não tem direitos: não pode possuir ou doar bens e nem iniciar processos judiciais, mas pode ser castigado e punido.

A escravidão é bem antiga, foi praticada por muitos povos, em diferentes regiões, desde as épocas mais antigas. Nos diferentes lugares e momentos históricos a escravidão teve seu caráter específico e foi sustentada em determinadas IDEOLOGIAS. Na ANTIGUIDADE, ela era legitimada a partir de questões hierárquicas, ou seja, na ideia de que o escravo era, de algum modo, um INDIVÍDUO INFERIOR na sociedade. Como constatamos no texto anterior sobre a Grécia: para Aristóteles, OS BÁRBAROS eram fora-da-lei naturais, essencialmente escravos; seria justo escravizá-los pois não tinham lei.

No MUNDO MODERNO, a justificativa dos europeus centrava-se na inferioridade dos negros e na crença de que eles, colonizadores, cristãos e civilizados, tinham a MISSÃO DE SALVAR OS NEGROS e retirá-los do inferno que era a África.

Antes eram feitos escravos os prisioneiros de guerra e pessoas com dívidas, mas posteriormente destacou-se a escravidão de negros africanos. Na IDADE MODERNA, sobretudo a partir da descoberta da América, houve um florescimento da escravidão, desenvolvendo-se então um cruel e lucrativo comércio de homens, mulheres e crianças entre a África e as Américas. A escravidão tinha motivos econômicos, mas passou a ser justificada por razões morais e religiosas e baseada na crença de uma suposta SUPERIORIDADE RACIAL E CULTURAL dos europeus. Chamava-se de TRÁFICO NEGREIRO o transporte forçado de africanos para a América como escravos durante o período colonialista.

A escravidão negra foi implantada durante o século XVII e se intensificou entre os anos de 1700 e 1822, sobretudo pelo grande crescimento do tráfico negreiro. O comércio de escravos entre a ÁFRICA e o BRASIL tornou-se um negócio muito lucrativo. O apogeu do afluxo de escravos negros pode ser situado entre 1701 e 1810, quando 1.891.400 africanos foram desembarcados nos portos coloniais.
Esse processo de migração forçada que foi imposto aos povos africanos não tem paralelo nenhum na história da humanidade.

Nada comparável aconteceu a nenhum outro povo. Os europeus, para realizar tamanha atrocidade, tiveram que vencer as intempéries marítimas, construir portos, dividir os povos africanos, promovendo  durante  três séculos o MAIOR GENOCÍDIO que a história  conheceu, homens, mulheres e crianças foram mortos, torturados e violentados culturalmente.

Os negros eram negociados em portos específicos da África, sendo uma  das atividades mais rentáveis para a empresa  mercantilista na  época. Enfrentavam  de três a quatro meses de viagem dentro de  navios  feitos especificamente  para este fim  e  que  eram  conhecidos como Tumbeiros. As taxas de  mortalidade dentro destas embarcações eram altíssimas, chegando a 1/3 dos negros que não conseguiam completar o martírio e desembarcar em território brasileiro. (assista ao filme AMISTAD)

De 1400 a 1900, a  população  negra da  África  ficou  estagnada. Estima-se que 100 milhões de africanos desapareceram em decorrência das guerras internas provocadas pelos traficantes de negros. (Livro"O negro no Brasil", Júlio José Chiavenato)

Em território brasileiro os negros foram utilizados nas  lavouras de cana-de-açúcar, em trabalhos dentro das casas -grandes e  também  nas  cidades, nos primeiros  núcleos  urbanos que  se desenvolviam  no território conquistado. Os  negros, vivendo  em  condições  subumanas  dentro  dessas  gigantescas  fazendas, eram tratados como animais e mercadorias, chegavam com uma expectativa de vida  de, mais ou menos, 15 anos devido às péssimas condições de alojamento e alimentação, as jornadas diuturnas de trabalho e aos castigos submetidos nos  engenhos, tudo isso com a bênção da  IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA, que também possuía escravos em seus domínios.

Alguns padres foram cruéis proprietários de escravos e acusados de sadismo. Não foram poucos os sacerdotes que usaram as negras para saciar sua luxúria. Faziam-lhes filhos que nasciam escravos e os abandonavam à própria sorte. Um exemplo: José do Patrocínio (1853-1905)

A povoação do Brasil se iniciou em torno do engenho, com toda uma série de atividades paralelas para fornecer gado, alimento, lenha etc. Logo se impôs a figura do ‘senhor de engenho”, rodeado de agregados e parentes. Nesse processo nasceu de fato o Brasil, que só cresceria pelo trabalho escravo dos negros africanos. Os engenhos tinham em média de 150 a 200 negros, no seu auge, de 1600 a 1700. (O negro no Brasil – Júlio José Chiavenato)

Nas fazendas de açúcar ou nas minas de ouro (a partir do século XVIII), os escravos eram tratados da pior forma possível. Trabalhavam muito (de sol a sol), recebendo apenas trapos de roupa e uma alimentação de péssima qualidade. Passavam as noites nas senzalas (galpões escuros, úmidos e com pouca higiene) acorrentadas para evitar fugas. Eram constantemente castigados fisicamente, sendo que o açoite era a punição mais comum no Brasil Colônia.

Eram proibidos de praticar sua religião de origem africana ou de realizar suas festas e rituais africanos. Tinham que seguir a religião católica, imposta pelos senhores de engenho e adotar a língua portuguesa na comunicação. Mesmo com todas as imposições e restrições, não deixaram a cultura africana se apagar. Escondidos, realizavam seus rituais, praticavam suas festas, mantiveram suas representações artísticas e até desenvolveram uma forma de luta: a capoeira.

Com a crise do açúcar começou a febre do ouro, na Colônia e em Portugal. A coroa ansiava pelos lucros da mineração. De 1700 a 1801, foram extraídos 983 mil quilos de ouro. Em cem anos, o Brasil deu ao mundo quase mil toneladas de ouro. Mais que o restante da produção das Américas.

Enquanto esse ouro teve uma importância fundamental na formação do Capitalismo (devido a dependência de Portugal com a Inglaterra, o ciclo do ouro brasileiro trouxe para os ingleses um forte estímulo ao desenvolvimento manufatureiro, uma grande flexibilidade à sua capacidade para importar, e permitiu uma concentração de reservas que fizeram do sistema bancário inglês o principal centro financeiro da Europa) , e a vida dos 600 mil escravos que produziram esta riqueza, piorava cada vez mais.

É importante reafirmar que a Igreja e o clero estavam cientes desse processo de condicionamento do negro, violento e animalesco.

É realmente impressionante como a sociedade compactuava, usufruía e alimentava-se destas práticas desumanas.

No sistema escravista havia um processo de dessocialização, processo em que o indivíduo era capturado e afastado de sua comunidade nativa, depois ele era brutalmente despersonalizado, ou seja, convertido em mercadoria na sequência da sua coisificação.

Ambos os processos aceleravam a transformação do escravo em fator de produção. Morrendo como pessoa ao cair cativo no continente negro, o africano era convertido em mercadoria, em peça marcada a ferro carimbado e tributado pela coroa.

Quanto mais longe e isolado estivesse o escravo de sua comunidade nativa, mais completa seria a sua transformação em fator de produção e mais profícua seria a sua atividade. Quanto mais dessocializado fosse o escravo, maior era seu valor mercantil.

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