sexta-feira, 20 de maio de 2016

"VÂNDALOS" - Capítulo 1


PARA ENTENDER A HISTÓRIA É PRECISO LER, ESTUDAR, PESQUISAR, QUESTIONAR E CONSTRUIR A SUA.

A História é o estudo do passado. Esta ciência humana é de fundamental importância para entendermos o que fomos e o que somos. Um povo que conhece e valoriza sua história está mais preparado para enfrentar os desafios do futuro. A História tem como objetivo principal analisar e interpretar as ações dos seres humanos no tempo e espaço.

Para entender o momento histórico que vivemos é preciso retornar um pouco na História. Vamos agora estudar um pouco de teoria numa série de postagens sobre aqueles que lutaram contra o poder estabelecido, desde a Antiguidade e que foram por isso denominados "vândalos".

TEORIA PARA A LUTA - "VÂNDALOS"




Vamos entender um pouco a origem do termo VÂNDALO, este nome que toda a mídia gosta de usar (e vão usar muito esse ano) quando se refere manifestantes atuais, principalmente os anarquistas.

A palavra "BÁRBARO" quer dizer "NÃO GREGO", ou seja, quando os estrangeiros iam até as cidades da Grécia eram tidos como "bárbaros".

Essa expressão nasceu no Império Romano, com o significado de (não-romano) ou (incivilizado). Esses povos tinham esse tipo de “preconceito” por causa da fase do etnocentrismo.

| ETNOCENTRISMO | É uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo, e todos os outros são pensados e sentidos

Como propunha Aristóteles em sua Política, só realizava a plenitude da humanidade o homem que vivia na pólis. Em outras palavras, quem não era grego era bárbaro, ou até mesmo selvagem.

Na Pólis somente 10% das pessoas tinham direitos e eram considerados cidadãos. As mulheres, as crianças, os estrangeiros e os escravos não eram considerados cidadãos.

Para alguns pensadores gregos, ninguém que vivesse fora da cidade possuía uma humanidade plena, visto que viviam uma vida sem lei. Para outros, a distinção entre bárbaro e selvagem era aquela entre quem seguia alguma lei, mesmo que não a dos gregos, e quem não seguia lei alguma.
Havia uma gradação entre o selvagem, quase animal, e o bárbaro, quase humano. Existiam, pois, pontos de vista conflitantes: para Aristóteles os bárbaros eram fora-da-lei naturais, essencialmente escravos; seria justo escravizá-los pois não tinham lei.

Para outros, os bárbaros, embora escravizáveis, possuíam alguma lei, ainda que não formalizada, notadamente regras de parentesco. O nomadismo, a ausência de agricultura e um suposto "comer cru" eram, contudo, sinais de selvageria.
E não devemos esquecer que centauros ou ciclopes podiam ser usados como metáforas de bárbaros e de selvagens.

VÂNDALOS


Os vândalos foram um povo que coexistiu com o Império Romano e no ano de 455 "invadiu" e submeteu Roma. Saquearam a cidade ao longo de duas semanas.

Em primeiro lugar o Império Romano era um império escravocrata, e não apenas um centro de arte e cultura da Antiguidade, como muitas vezes pode parecer, devido às imagens que chegam até nós. Ou seja, para cada coluna do Senado ou do Coliseu foram necessárias milhares de vidas relegadas ao trabalho escravo, a uma existência de opressão e violência em benefício de uma minoria da elite romana.

E onde esses senhores de escravos romanos conseguiam essa gente para o trabalho escravo? Através da conquista de outros povos, que iam sendo submetidos após as campanhas militares romanas. Será que essa dominação dos povos na expansão do império se deu de forma pacífica?

A coisa não é tão bonita como dizem por aí, para aqueles que viram as bonitas histórias sobre a "civilização" romana: o domínio desses povos não era feito de maneira pacífica.

Uma violência sem fim, povos inteiros sendo submetidos, escravizados, levados para os mais distantes lugares para servir de mão de obra aos interesses imperiais romanos.

Mas a história da violência contra os povos submetidos muitos não conhecem. Por que? Os registros das batalhas contra esses povos, gauleses, francos ou celtas foram feitos pelos romanos, pelos povos dominantes,e, logicamente, foi essa versão que chegou até nós.

Com essa versão dominante, temos a explicação do período que ficou conhecido como as Invasões Bárbaras, quando diversos povos que viviam além dos limites do Império Romano atravessaram as fronteiras e pouco a pouco foram destruindo o mundo escravocrata romano.
E o que os vândalos têm com isso?

Eles foram um desses povos que conseguiram ultrapassar os limites do Império, junto com ostrogodos, visigodos, hunos, etc... e no caso os vândalos, conforme já citamos, tomaram a capital romana por duas semanas.

Os Vândalos foram um dos povos bárbaros que mais ficaram marcados na história como violentos e destruidores. Possivelmente originários da região da Escandinávia, eles adentraram o Império Romano por volta do final do século IV, percorrendo quase todo o território que hoje é conhecido como Europa, tendo seu fim no norte da África.

Foi mais ou menos nesse contexto que a palavra "vândalos" voltou ao vocabulário e começou a assumir o significado de destruidores e saqueadores.

O EXEMPLO DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL É O MESMO


Muitos latifúndios ainda hoje existentes ou outros que deram origem a grandes fortunas foram construídos com o sangue e a vida de milhares de indígenas.

As memórias destas atrocidades estão esquecidas, enterradas com suas vítimas. A História acabou sendo escrita para e por aqueles que venceram.

Diga-se, a bem da verdade, no entanto, que este tipo de tratamento dos povos indígenas não é absolutamente exclusividade da sociedade brasileira; do Canadá à Argentina estes povos foram exterminados para dar lugar ao branco agricultor, pecuarista, garimpeiro e colonizador.

Em 1500, os primeiros portugueses que desembarcaram no continente americano tomaram posse das terras e logo em seguida tiveram os primeiros contatos com os indígenas, chamados pelos portugueses de “selvagens”.

Alguns pesquisadores chamaram esse primeiro contato entre portugueses e indígenas de “encontro de culturas”, como se este representasse um momento em que as diferentes culturas trocaram influências, mas não foi bem isso o que aconteceu.

O caráter supostamente bárbaro dos índios também é atestado pelo relato de Claude d’Abbeville:
“Deus, na sua infinita bondade, fez dessa região um lugar de delícias. Tantas são que se diriam feitas para atrair o habitante do país ao conhecimento de Deus ou, pelo menos, à admiração da excelência do soberano obreiro: entretanto, não creio que tenha jamais havido nação mais bárbara, mais cruel e desumana do que essa”.
Correspondeu ao início do processo de extermínio e submissão dos indígenas o genocídio, e houve um processo de imposição cultural (que chamaremos de etnocídio, ou seja, os portugueses impuseram sua cultura sobre a cultura indígena).

As principais realizações portuguesas tiveram a utilização da mão de obra indígena escravizada, como na extração do pau-brasil, na construção de feitorias pelo litoral, etc.

O povo indígena sempre foi retratado nos livros didáticos a partir de uma visão etnocêntrica.

Livros escritos pela classe dominante, que dão à valorização da cultura europeia exaltando as “grandes invenções”, o avanço das ciências e da medicina, enquanto no que se referem aos povos não ocidentais tudo parece uma “contribuição inferior” e apenas folclórica.

Assim, os indígenas estão presentes na História do Brasil sempre em oposição a uma sociedade europeia, servindo de pressuposto para (re)afirmar a superioridade da cultura do branco europeu.

Numa visão etnocêntrica, que durante a colonização serviu como justificativa para atribuir aos índios à condição de “atrasados”, pelo fato de não dominarem as técnicas de manipulação do ferro ou qualquer outro metal. E assim durante muito tempo os seus saberes foram ignorados, como por exemplo, a importância do conhecimento e manipulação de ervas em benefício da medicina.

Justificam também a violência colonial como algo necessário para o “progresso e a civilização”.




Na próxima semana será publicado o segundo capítulo, onde veremos que a justificativa para escravizar os negros é a mesma que a usada para os "povos bárbaros" e vândalos.
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